O que podemos aprender com editores de periódicos de alto impacto?
Postado por acfrery às 17:52Publicações de excelência têm taxas de rejeição superiores a 90%, rápido processo de avaliação e busca por artigos com equilíbrio entre forma e conteúdo
Nas dependências de um hospital de primeiro mundo, no coração da maior metrópole brasileira, se reuniram, na quarta-feira (14/4), editores de periódicos científicos internacionais de alto impacto.
Meta de publicação para uns, sonho distante para outros, os periódicos Science, The Lancet Infetious Diseases, Journal of the American Medical Association (Jama) e o Journal of Clinical Investigation (JCI) têm muitas coisas em comum: taxas de rejeição superiores a 90%, rápido processo de avaliação, busca por artigos com equilíbrio entre forma e conteúdo, além de defenderem um processo de avaliação igualitário, focado na qualidade científica.
O I Colóquio Brasileiro sobre Pesquisa e Publicações Científicas de Alto Impacto realizou-se até sexta-feira (16/4) nas dependências do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, em São Paulo, buscando diagnosticar as dificuldades que impedem o Brasil de publicar mais e melhor e definir formas de conquistar mais visibilidade internacional.
Dentre os ideais de publicações apresentados pelos editores estão a busca por artigos de qualidade, compactos, originais e interessantes, que apontem novas formas de pensar, tragam a resolução de dificuldades antigas nas áreas de conhecimento, e sejam definidores de novas questões ou técnicas. Até aí, nenhuma novidade. Mas os editores presentes deixaram claro que a dedicação dos autores não deve ficar restrita ao corpo do artigo.
"O resumo é absolutamente crucial", enfatizou John McConnell, editor da Lancet Infectious Diseases. Junto com a carta de apresentação do artigo, constituem materiais que podem definir uma rejeição imediata. Por sua relevância, Ushma Neill, editora da JCI, lembrou que os editores ficam à disposição de futuros autores para pré-avaliar um resumo de um trabalho, antes mesmo da submissão do artigo completo, uma forma de minimizar esforços diante de uma forte concorrência. A Science recebe cerca de 25 mil artigos por ano, enquanto na Lancet esse número é de 11.750, e no Jama, de quase seis mil.
As principais razões para a rejeição de artigos vão desde, simplesmente, não fazer parte do escopo da publicação, até má qualidade, estudos meramente confirmatórios de resultados anteriores, sem contribuir para novos insights, resultados muito preliminares, pouca relevância, discussões e conclusões pouco convincentes, entre outras.
Por trás do complexo processo de avaliação de artigos - há um exército de pareceristas (peer reviewers) voluntários ao redor do mundo, que são constantemente recrutados. McConnell afirma que prefere os pesquisadores jovens, por eles produzirem pareceres, normalmente, mais detalhados e, portanto, de melhor qualidade.
No entanto, a dificuldade é identificar esses especialistas, já que ainda têm baixa produção acadêmica. Portanto, a sugestão colocada pelos editores é que os autores sugiram nomes de possíveis pareceristas, além de apontar aqueles que não devem participar do processo, por haver conflito de interesses. No entanto, Robert Golub, editor-sênior do Jama, deixou claro que "os pareceristas são apenas consultores dos editores, mas não definem sobre o destino da publicação".
Neutralidade de tratamento?
Uma das questões frequentes no debate sobre a participação brasileira em publicações de alto impacto não passou despercebida no Colóquio: existe diferença na avaliação de artigos escritos por autores cuja língua materna não é o inglês, sobretudo de países pobres? A resposta de Pamela Hines, da Science, foi consensual entre os editores: "Para nós, não importa o país, a instituição ou quem é o autor. Nos importamos com o conteúdo intelectual do artigo".
Embora o discurso esteja dentro da tradicional visão da ciência universal, isenta de valores socioculturais, Márcia Triunfol, consultora de publicações científicas da empresa Publicase e organizadora do evento, lembrou o fato dos revisores de periódicos de alto impacto usualmente solicitarem que artigos de brasileiros - e o mesmo poderia ser dito para outros países - sejam revisados por nativos da língua inglesa.
"Nunca poderemos atender a essa exigência, porque teríamos que nascer de novo", lamentou, "seremos sempre dependentes". Triunfol acredita que está na hora dos editores darem outro tratamento aos autores de países que não são falantes nativos do inglês.
O evento é voltado apenas para a comunidade do Albert Einstein, que contou com participantes que preencheram pouco mais da metade da capacidade do auditório. Mas, certamente, trata-se de uma importante iniciativa para fomentar o debate de um ponto que o Brasil precisa enfrentar: apesar da conquista recente de um 13º lugar no ranking de produção mundial de ciência - segundo dados referentes a 2008 no banco de dados da Web of Science (WoS) - , o país ainda precisa melhorar os números de citações que seus artigos recebem.
Segundo Rogério Meneghini, um dos fundadores da biblioteca virtual SciELO - terceiro maior banco de artigos científicos de acesso aberto do mundo -, atual coordenador científico da instituição e palestrante do Colóquio, embora a participação brasileira na produção científica mundial tenha tido o maior incremento entre as nações no ano de 2008 - mesmo considerando a entrada de nada menos do que 32 novos periódicos no sistema de indexação internacional WoS -, o número de citações por artigo ainda é baixa, em média 2,58, semelhante à Índia, mas inferior à China (3,73).
Dentre os exemplos citados por Meneghini estão as publicações no campo de saúde pública, nas quais o Brasil se destaca como terceiro no ranking de produção de artigos, muito embora o número médio de citações que cada artigo receba seja inferior a 1 (0,95, no ano de 2008).
A expectativa do evento, segundo Luiz Vicente Rizzo, um dos organizadores e superintendente do Instituto de Ensino e Pesquisa do Albert Einstein, é melhorar a performance brasileira nas publicações internacionais, otimizando o potencial que a ciência nacional já possui. "Não tenha medo de ter um artigo rejeitado na Science, você estará em boa companhia", brincou Pamela, lembrando que o periódico rejeitou cerca de 94% dos artigos recebidos em 2008.
(Revista ComCiência, 15/4)
Mais uma leitura
Postado por acfrery às 09:06Alejandro
nas coxas
Postado por acfrery às 05:52Com a rapidez de um vírus, essas etimologias de R$1,99 se espalham pela internet e dali chegam aos blogues, aos jornais e às revistas, de onde serão recolhidas novamente por esses catadores de lixo, que irão reciclá-las em novos livros sobre a “origem divertida das palavras”. É um ciclo infernal! O típico autor dessas obras tem escassa ou nenhuma formação lingüística, o que o deixa mais à vontade para escrever a barbaridade que lhe der na telha. Como não sabe como funciona uma língua humana, acha plausível (!) que o vocábulo forró tenha nascido da recepção errada de “For all” (”para todos”, em Inglês, que soa mais ou menos como /foróu/), que assinalava, nas bases americanas no Nordeste, as festas abertas à comunidade — e se alguém lhe ensina que se trata, na verdade, de uma simples redução de forrobodó (”festança”), vocábulo já encontrável no séc. XVIII, ele torce o nariz e exige que o convençam disso! Como se diverte com esses equívocos com palavras desconhecidas, afirma ingenuamente que a lhama recebeu esse nome por causa de um mal-entendido similar: diante do conquistador espanhol que apontava para o simpático animalzinho e perguntava — decerto aos gritos e com feroz carantonha — “Como se llama?”, algum amedrontado antepassado de Evo Morales, à guisa de resposta, teria apenas balbuciado a última palavra da pergunta — “Llama” — como se fosse o comportamento normal de qualquer ser humano repetir o final da frase quando o interlocutor fala uma língua estrangeira.
Como nosso autorzinho não estudou Latim, que já é coisa ultrapassada, sente-se livre para dizer que enfezar significa “estar cheio de fezes”, ignorando que vem de infensare, “opor-se a alguma coisa com vigor, hostilizar”. Pior é quando ele próprio resolve arriscar uma origenzinha histórica, falsa como tudo o que ele vende: é o caso de aluno, cuja etimologia de araque vem sendo apresentada com sucesso em muitos seminários pedagógicos por aí. O termo viria de *luno (que significaria “luz” — só Deus sabe em que língua!), e a-luno seria aquele que está sem luz, à espera de que o professor o tire da obscuridade em que vive — o que tornaria o termo politicamente incorreto (!) para aqueles que defendem uma gestão democrática da escola, sendo mais adequado substituí-lo por estudante... É sinistro ver como uma idéia tão rasteira se alastrou entre muitos dos profissionais encarregados da educação dos pobres brasileirinhos! Mas será que não existe uma boa alma ali que se nime a abrir o dicionário do Houaiss para ver que aluno vem do Latim alumnus, “criança de peito, menino, aluno, discípulo”, derivado de alere, que significa, entre outras coisas, “desenvolver, nutrir, alimentar, criar, fortalecer”?
O nosso etimólogo amador começa, agora, a “corrigir” o passado. O velho provérbio “Quem não tem cão caça com gato” está errado; o certo, diz a sumidade, é “caça como gato”, isto é, sozinho — contrariando todas as obras de paremiologia publicadas até hoje e deixando o próprio Machado com cara de bobo, por escrever “com gato”. Tem mais: não é “Quem tem boca vai a Roma”, mas sim “vaia Roma”… Essa é de cabo-de-esquadra! E o que vamos dizer aos franceses (”Qui langue a, à Rome va“), aos espanhóis (”Preguntando se va a Roma“) e aos italianos (”Chi lingua ha, a Roma va“)? E outra coisa: nas coxas viria do hábito de moldar a telha de argila nas coxas dos escravos, o que a deixava com forma irregular! Que descoberta! Eu pensava, maliciosamente, que era expressão proibida à mesa de refeição porque indicava o velho sexo intercrural (ou interfemoral), já tão praticado na Grécia, conceito muito conhecido pela minha geração mas que os jovens atuais simplesmente não entendem (”Se chegavam na portinha, por que não iam adiante?”), e que fazer nas coxas era fazer algo afobadamente, apressadamente, deixando malfeito e incompleto o que poderia ser melhor — bem do jeito como vem sendo praticada essa etimologia de meia-pataca.
[Coluna O Prazer das Palavras — publicado no jornal ZH em 6/01/2007]
Tarefa para 7/3
Postado por acfrery às 07:52Até o dia 7/3 às 18:00 deverão postar um comentário sobre o seguinte vídeo:
Para fazer a postagem deverão
- Assistir o vídeo até o final.
- Assistir o vídeo novamente, registrando o nome e a área de atuação dos cientistas cujos depoimentos compõem o vídeo.
- Assistir o vídeo novamente, registrando o que cada um deles fala.
- Fazer uma busca livre na Internet, à procura de informações da vida e atuação de cada um deles.
- Escolher um deles para comentar o impacto do seu trabalho na ciência contemporânea.
- Fazer um comentário breve e objetivo do/a cientista escolhido/a. Será pontuada a qualidade e a originalidade do texto.
Tarefa para 21/9
Postado por acfrery às 12:45- trata-se de uma tarefa de certa complexidade, da qual espera-se um bom aproveitamento
- os conhecimentos fixados pela realização desta tarefa são essenciais para a disciplina, e irão servir como base para boa parte do resto da mesma
- não dedique menos de uma hora por dia para este trabalho, ou esteja pronto para não ter um bom aproveitamento
Até o dia 21/9 noao meio-dia deverão enviar um arquivo .tex e um arquivo .bib relatando o resultado de uma análise bibliométrica da sua área de interesse. A pesquisa é individual, e não serão aceitos trabalhos versando sobre a mesma busca (usem o blog para evitar
duplicatas). Essa análise deverá incluir pelo menos os seguintes
critérios:
- cronológico
- por tipo de veículo
- por autor
- por país
- citações por tipo de veículo
- fator h por tipo de veículo
- autor/es mais citado/s por tipo de veículo
- autor/es com maior fator h por tipo de veículo
- artigos mais citados por tipo de veículo
A análise deverá ser baseada em pelo menos 300 artigos, e o critério de busca (tal como consta no ISI Web of Knowledge) deverá ser informado.
Use ainda a plataforma Lattes do CNPq para identificar pesquisadores ativos na sua área de interesse. Analise a produtividade de pelo menos cinco deles usando o ISI, verificando explicitamente se se trata de bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq. Essa análise deverá incluir obrigatoriamente o fator h e a menção do artigo mais citado em
periódico de cada pesquisador.
Lebrem que uma análise não é uma coleção de números, mas o resultado de uma reflexão a respeito deles.
Caso o arquivo LaTeX contenha caracteres especiais, somente será aceita a codificação utf8. Lembrem que o arquivo BibTeX não pode conter caracteres especiais.
Verifiquem a correta compilação antes do envio. Não serão aceitos trabalhos que geram mensagens de erro pelo LaTeX nem pelo BibTeX.
No Grupo Google da disciplina há vários textos sobre LaTeX/BibTeX.O estilo de citação deverá ser obrigatoriamente "agsm_url", disponível no grupo da disciplina.
Sagrada laicidade
Postado por acfrery às 11:40![]() |
E determinou pela primeira vez a separação entre Estado e religiões. Por força dessa norma, cemitérios passaram a ser administrados pelo Estado e instituiu-se a figura do casamento civil. Isso aconteceu em um contexto de transformações sociais e políticas trazidas pelo novo Estado republicano -que, aliás, no ano seguinte ao decreto, adotaria a laicidade na própria Constituição Federal.
A partir daí, várias questões têm vindo à tona para testar o quanto o Estado brasileiro é realmente laico. E para medir qual a magnitude da separação entre Estado e religiões no país. Na verdade, desde a reforma protestante, no século 16, Martinho Lutero alertou sobre os problemas relacionados à adoção do direito canônico como instrumento regulador da sociedade. Preocupava-se com a necessidade de ter leis laicas.
Porque as leis canônicas se lastreiam em dogmas, verdades históricas absolutas e inquestionáveis. E a comunidade precisa de regras baseadas na racionalidade e mutáveis, porque o comportamento humano é dinâmico e, por isso, mutável.
Antes dessa separação, também os conceitos de crime e pecado se confundiam. As penas criminais eram, na verdade, castigos a serem impostos àqueles que violavam interesses da igreja ou do Estado, principalmente. E a pena principal era a de morte.
As ideias do modernismo determinaram profunda revisão de conceitos, colocando a dignidade humana como foco de preocupação dos povos. Apesar disso, no Brasil, setores conservadores, avessos ao respeito à Constituição, dizem que a maioria do povo é católica e que isso deve determinar um tratamento privilegiado para a Igreja Católica.
Chegam a propor, ainda que veladamente, na forma de acordo internacional, a violação do artigo 19 da Carta ao pretender uma reformulação do regime jurídico da relação Estado-religiões.
Isso é negar a essência da democracia. Porque, no sistema democrático, a voz da maioria prepondera na escolha do governante. Mas o eleito, passadas as eleições, deve governar para todos, incluídas as minorias, e não apenas para a maioria que o escolheu.
Essa concepção, que parece óbvia, é realidade concreta na França desde a revolução de 1789, tendo sido banidos de prédios públicos os símbolos religiosos. Da Justiça, das escolas, de todos. Também já se enterrou lá a ideia do ensino religioso em escolas.
E não é só na França. O mundo ocidental como um todo caminhou nessa direção. E até mesmo em países monarquistas, como Inglaterra e Dinamarca, a manutenção de uma religião oficial não impediu a existência de ordenamento jurídico laico. Lá se respeitam na plenitude as liberdades públicas e os direitos civis dos cidadãos, sendo autorizado o casamento homossexual na Inglaterra e o aborto na Dinamarca, entre outros direitos.
É triste constatar que, aqui no Brasil, quase 120 anos depois da opção pela república laica, deparamo-nos diariamente com incontáveis desrespeitos à cidadania. Que a neutralidade religiosa, que deveria ser a tônica das ações dos nossos agentes políticos, ainda seja meta distante de ser alcançada.
Precisamos reafirmar a cada dia nossa opção republicana laica. E precisamos mostrar às próximas gerações de brasileiras e brasileiros que cada um tem o direito à liberdade plena. De manifestação, de associação. De crer ou não crer. E que ninguém tem o direito de se opor ao exercício desse direito.
Que se opor a esse exercício significa negar a república, a democracia e a tolerância religiosa brasileiras.
Portanto, em boa hora o Ministério Público Federal pediu à Justiça que sejam retirados símbolos alusivos a uma religião das dependências de prédios públicos federais. O espaço público é de todos, e não só dos adeptos daquela religião.
Os agnósticos e ateus, assim como as minorias adeptas a todas e quaisquer religiões, têm direito de estar nesses locais sem se constrangerem com a existência de símbolos de uma religião à qual não aderiram. Trata-se de respeitar cada brasileiro e cada brasileira no exercício pleno de suas liberdades públicas, que devem ser defendidas sempre de forma intransigente.
ROBERTO LIVIANU, doutor em direito pela USP, é promotor de Justiça em São Paulo e coordenador, no Movimento do Ministério Público Democrático (MPD), de projeto sobre Estado laico.
Pesadelo futurista
Postado por acfrery às 19:17JC e-mail 3814, de 28 de Julho de 2009
Especialistas em inteligência artificial discutem limitar tecnologia
Um robô capaz de abrir portas e encontrar tomadas por conta própria para se recarregar. Vírus de computador que ninguém consegue deter. Pequenas aeronaves não tripuladas que, ainda que operadas por controle remoto, chegam muito perto de uma máquina com autonomia para matar.
Impressionados e alarmados pelos avanços na inteligência artificial, um grupo de cientistas está debatendo se deve haver limites para avanços tecnológicos que podem levar a uma perda do controle humano sobre sistemas computacionais cada vez mais usados pela sociedade, seja em guerras ou num simples bate-papo ao telefone.
A preocupação é que avanços ainda maiores possam criar graves problemas sociais com consequências perigosas. Como exemplos, os cientistas citam várias tecnologias — tão diversas quanto sistemas médicos experimentais que interagem com pacientes para simular empatia e vírus de computador que desafiam as técnicas de extermínio e já teriam atingido o estágio “inseto” da inteligência mecânica.
Embora os cientistas concordem que ainda há um longo caminho a percorrer até Hal — o computador que assume o comando da nave em “2001: uma odisseia no espaço” —, eles acreditam que é legítima a preocupação de que o progresso tecnológico possa transformar o mercado de trabalho ao acabar com um grande número de empregos, bem como forçar seres humanos a viverem com um crescente número de máquinas.
Robôs capazes de matar já existem
Reunidos numa conferência em Asilomar, na Califórnia, cientistas especializados em computadores, inteligência artificial e robôs descartam a possibilidade de uma superinteligência altamente centralizada ou mesmo de que algum tipo de inteligência possa emergir espontaneamente na internet. Mas eles concordam que robôs capazes de matar de forma autômata já existem.
Os especialistas centraram atenção especial na ameaça de que criminosos poderiam explorar sistemas de inteligência artificial com objetivos espúrios. O que um criminoso poderia fazer com um sistema capaz de criar vozes similares às humanas? O que aconteceria se a tecnologia de inteligência artificial for usada para drenar informações pessoais de “smart” fones? Os pesquisadores também discutiram possíveis ameaças ao mercado de trabalho, representadas por carros que dispensam motoristas e serviços de robô em casa.
A conferência foi organizada pela Associação para o Avanço da Inteligência Artificial, que, ao escolher Asilomar como lugar das discussões, evocou, propositalmente um evento histórico da ciência. Em 1975, os maiores biólogos do mundo se reuniram em Asilomar para discutir a possibilidade de transformar formas de vida por meio da troca de material genético entre organismos e estabelecer parâmetros para tais experiências. Era o início da engenharia genética.
O encontro sobre o futuro da inteligência artificial foi organizado por Eric Horvitz, um pesquisador da Microsoft que, atualmente, é presidente da associação. Para ele, os cientistas computacionais devem estar aptos a debater noções de máquinas superinteligentes e de sistemas de inteligência artificial que fogem ao controle.
A ideia de uma “explosão de inteligência”, na qual máquinas projetariam outras máquinas ainda mais inteligentes foi proposta pelo matemático I.J. Good em 1965. Anos depois, em palestras e romances de ficção científica, o cientista Vernon Vinge popularizou a noção de que os seres humanos seriam capazes de criar uma máquina mais inteligente do que o homem, causando transformações tão rápidas que levariam ao “fim da era humana”.
A ideia, explorada no cinema e na literatura, é vista como plausível e inquietante, por cientistas como William Joy, co-fundador da Sun Microsystems. Outros especialistas em tecnologia, sobretudo Raymond Kurzwell, veem com entusiasmo o advento das máquinas inteligentes, dizendo que elas trarão grandes avanços para o aumento da expectativa de vida e a prosperidade em geral.
— Acredito que, cedo ou tarde, teremos que fazer algum tipo de declaração em resposta ao crescimento do número de pessoas muito preocupadas com o surgimento de máquinas inteligentes — afirmou Horvitz
Parâmetros serão divulgados
Um relatório sobre a conferência, que aconteceu a portas fechadas, será divulgado no fim do ano. O relatório abordará a possibilidade de “perda de controle humano de inteligências baseadas em computadores”. Também abordará, segundo Horvitz , questão éticas, legais e socioeconômicas, bem como as prováveis mudanças da relação entre seres humanos e computadores. Como será, por exemplo, se relacionar com uma máquina tão ou mais inteligente quanto seu parceiro?
(John Markoff, do The New York Times)
(O Globo, 28/7)